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Carolina Romanholi

A nova geração feminina no futebol cearense

Foto: Tribuna do Ceará

Se o futebol se modificou bastante nos últimos anos, Carolina Romanholi, 30, faz parte desta mudança. Árbitra cearense acumula treze anos de dedicação ao esporte que é paixão nacional. Ela faz parte do seleto grupo de mulheres que busca espaço e representatividade, dentro (e fora) dos campos.

Sua presença e de tantas outras profissionais neste segmento esportivo  agrega mais do que democratização ao mundo da bola. É prova clara de que o machismo está perdendo espaço diante do contexto social e ideológico esportivo.

Em uma ‘viagem no tempo’, Carolina relembra do período em que tinha sete anos de idade e praticava handebol assiduamente. O tempo passou e a jovem se viu encantada pelo futebol, graças à influência da mãe que, costumeiramente, acompanhava os jogos pela TV. Foi por volta dos quinze anos de idade que definitivamente abraçou o futebol como hobby e posteriormente  como profissão.

Ainda que contasse com o apoio integral da mãe para se dedicar à nova escolha, Carolina enfrentou a desaprovação do pai, que num primeiro momento foi radicalmente contra a sua decisão. Logo viria a estratégia para virar o jogo e mudar esta situação. Eis que durante uma final de campeonato paulista, ao perceber na televisão a presença de uma mulher apitando o clássico, a jovem usou o momento oportuno para convencer o pai sobre sua escolha profissional. E funcionou.

O início da jornada foi trilhado com algumas dificuldades, dentre elas a falta de oportunidade para ingressar no ‘mundo da bola’. Carolina passou cerca de um ano entrando em contato com a Federação Cearense de Futebol em busca de curso de formação. Afinal, este era o pré-requisito básico para que pudesse dar um pontapé inicial em sua carreira.

Além da falta de espaço, outros dois grandes vilões se fizeram presentes nesta etapa inicial e que até hoje são problemas recorrentes na presença feminina nesta área: machismo e preconceito. A árbitra afirma ter entrado em campo e, por diversas vezes ter ouvido comentário nada agradáveis, do tipo: “Não é nem pra tá aqui, é pra estar no fogão”.

Atuar nos gramados lhe parecia uma tarefa bastante desafiadora, a começar pelo fato de que os testes físicos realizados a cada trimestre eram (e continuam sendo) tipicamente pensados para profissionais do sexo masculino. Sendo assim, elas precisam redobrar os esforços para participarem deste processo. Além dos testes, buscou ainda o preparo físico complementar em academia, para adquirir fortalecimento muscular. Realizando também o acompanhamento com psicóloga, nutricionista e fisioterapeuta, disponibilizados pela Federação Cearense de Futebol (FCF).

Ainda no começo de sua trajetória profissional, ela afirma ter observado uma relativa diferença no tratamento pelo fato de ser mulher. Inclusive chegou a solicitar que fosse convocada com mais frequência, uma vez que árbitros do sexo masculino eram escalados com maior intensidade. Hoje, este tipo de questão é passado, já que a Federação Cearense procura equilibrar a escalação por meio da realização de sorteios e em regime de revezamento.

Atualmente casada com o também árbitro, Uilian Verly, 29, Carolina já enfrentou assédio por parte de um colega de trabalho (que posteriormente foi relatada  à FCF para que fossem tomadas as devidas providências). Já Uilian, por sua vez, reage de forma bastante profissional e ressalta que este tipo de situação nunca foi um problema que atrapalhasse a relação conjugal.

Mesmo que a igualdade entre os gêneros já tenha avançado bastante, a árbitra destaca que o machismo continua a ser um ponto negativo no ambiente esportivo. Ela considera que, mesmo a mulher possuindo mais atenção e delicadeza ao atuar dentro dos campos, nem sempre esses diferenciais são fatores de sucesso quando decide empreender nos gramados.

É importante ressaltar que muito tem sido feito para que as diferenças se tornem cada dia menores. E, aliás, muita coisa já melhorou significativamente para a mulher que queira se profissionalizar no futebol. A começar pelo fato de que nos três últimos anos a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), passou a realizar cursos de formação destinados exclusivamente ao público feminino. Em 2017, o curso de capacitação será oferecido com turma de cinquenta vagas, especialmente para o público feminino.

Ainda que com tamanhas dificuldades, Carolina começa a ver que todo o esforço e dedicação foram coroados com resultados vitoriosos. A árbitra ostenta o título de primeira mulher cearense a atuar numa equipe de arbitragem pela “Série A” do campeonato brasileiro. Outra grande conquista de cunho pessoal foi a oportunidade de ter atuado há dois anos em um ‘Clássico Rei’ (tradicional jogo entre os times Ceará e Fortaleza), que era um antigo sonho vindo da época onde sequer era profissional da área.

Depois de participar de clássicos entre os times São Paulo e Coritiba, Santos e Bahia, ou mesmo em ter viajado por boa parte do país, Carolina afirma que chegou a hora de traçar planos maiores. O curso de Jornalismo é um dos primeiros passos para migrar dos campos para os estúdios, uma vez que suas pretensões profissionais visam a ocupar o posto de comentarista feminina de arbitragem, cargo este que não possui candidatos na TV cearense. E assim, com passos firmes e ideias sólidas, Carolina se tornou nos campos (e fora deles) dona da bola e de seu próprio destino.

Por: Fernando Magno
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